Sabia que a alteração na posição dos dentes pode influenciar a digestão, a respiração, a fala, o crescimento da face e dos maxilares e até a postura das crianças?
A boca é o início do sistema digestivo e todas as doenças que afetam os dentes, como a dor por cárie dentária ou a má oclusão (“encaixe errado dos dentes”) podem alterar a mastigação e diminuir a eficácia de trituração dos alimentos, prejudicando a correta absorção dos nutrientes no tubo digestivo.
Além disso, uma criança que mastiga preferencialmente apenas de um dos lados irá estimular mais o desenvolvimento desse lado provocando um crescimento da face desarmonioso e assimétrico, quase como ir ao ginásio e exercitar apenas um dos lados.
A respiração está em estreita relação com a cavidade oral. Já pensou que abaixo do nariz temos a boca, ou seja, que o nariz é o “teto da boca”? Uma criança que não respira pelo nariz tem uma fossas nasais pequenas e consequentemente um maxilar superior estreito, profundo e pouco desenvolvido, sem espaço para os dentes definitivos.
Como a respiração é a função mais básica do nosso organismo (não conseguimos viver sem respirar!) a criança irá entreabrir a boca, a língua irá posicionar-se baixa, e o estímulo de crescimento da face será vertical, para baixo e para trás, ou seja, a criança terá uma face longa e a mandíbula recuada.
Como o ar não é filtrado pelos cílios do nariz, a criança terá mais tendência a ficar doente, as amígdalas estarão aumentadas, a criança irá mastigar de boca aberta para conseguir respirar, o sono não será repousante nem reparador e não é incomum haver olheiras e ronco durante a noite.
Uma vez que para falar necessitamos das estruturas orais, todas as alterações que as acometam, como por exemplo a mordida aberta (“dentes superiores não tocam nos inferiores”) o freio curto da língua ou o maxilar superior estreito podem alterar ou incapacitar na produção de alguns sons e por isso alterar a fala.
Atualmente discute-se amplamente a interligação entre a postura corporal e a posição dos dentes, dos maxilares e até da performance física. O exemplo mais comum é quando a mandíbula está recuada e a criança adota uma posição com as costas “arqueadas” e com a cabeça anteriorizada (projeção da cabeça para a frente).
O crescimento do crânio e da face ocorre cerca de 80% até aos 6 anos, sendo este o período ideal para uma intervenção precoce e preventiva, mesmo quando há apenas dentes de leite.
Quando as crianças estão em desenvolvimento há um maior potencial de correção e podemos usar e guiar o crescimento para a normalidade de modo a corrigir as alterações que vão levar à doença. Porquê esperar que o problema se instale e agrave?
Filipa F. Coimbra | Médica Dentista (OMD 8012)